Ancelotti, Seleção Brasileira e a ilusão do salto imediato de qualidade
A coluna de Tostão discute a estreia de Ancelotti, expectativas e realidades do futebol brasileiro

Os grandes vencedores, como Ancelotti, são ambiciosos e obcecados pelas vitórias. Penso que um dos motivos do técnico ter aceitado o convite da CBF é a convicção de que a seleção possui muitas chances de evoluir e de conquistar a Copa do Mundo.
No Brasil, como tudo é polarizado, muitos acham que temos os melhores jogadores do mundo e que não ganhamos uma copa há tanto tempo por falta de um ótimo treinador, enquanto outros dizem que a qualidade atual não é boa e que não adianta ter um excelente técnico. Não é uma coisa nem outra.
Será que Ancelotti criou uma expectativa acima da realidade?
Tenho muitas dúvidas. Será que Ancelotti, por causa da história do nosso futebol e por ter comandado vários craques brasileiros, criou uma expectativa acima da realidade? Receio que falte a Casemiro, valorizado por Ancelotti pelo que jogou no Real Madrid, a mobilidade que se exige atualmente para ser um grande jogador de meio campo.
Tenho dúvidas sobre a qualidade individual do elenco brasileiro. Temos apenas dois jogadores que estão no nível dos melhores do mundo, Vinicius Junior e Raphinha, que não atuará amanhã contra o Equador por estar suspenso. Hoje, além dos dois, apenas o goleiro Alison, do Liverpool, e o zagueiro Marquinhos, capitão do PSG, são destaques nas suas posições na Europa. Todos os outros convocados são bons, porém no mesmo nível de tantos outros espalhados pelo mundo.

Faltam laterais
Repito, a seleção carece de melhores jogadores nas laterais, no meio campo e na posição de centroavante. Como todas as outras principais seleções da Europa possuem também deficiências, o Brasil é sempre candidato ao título. Aumentam as chances com Ancelotti.
Ancelotti declarou que a seleção vai jogar como o Real Madrid do ano ado, e não deste ano. Ele referia-se ao Real já com os dois craques, Mbappé e Bellingham, ou à formação anterior que tinha um trio no meio campo (Casemiro, Kross e Modric), além do excelente reserva Valverde, e mais um trio de ataque (Vini, Rodrygo e Benzema).
Com as contratações de Mbappé e Bellingham, o time ficou mais poderoso no ataque, porem mais desequilibrado, com a marcação mais frágil e com menos domínio da bola no meio campo.
Contra o Equador, Ancelotti deve escalar um trio no meio campo mais marcador com Casemiro, além de um trio no ataque, ou o time vai jogar com dois volantes, dois pontas que atacam e voltam para marcar, um meia ofensivo centralizado e um centroavante?
Intensidade e pressão
O desenho tático na prancheta está superado. Muito mais importante é jogar com intensidade e pressão na marcação para recuperar rapidamente a bola, como fizeram Cruzeiro e Palmeiras, e com a compactação, movimentação nas trocas de es e nas posições, como atuou o PSG na goleada por 5x0 contra a Inter de Milão.
Independentemente da estratégia, do resultado e do desempenho da seleção contra o Equador, não se pode, por causa de um jogo, fazer análises definitivas nem tirar conclusões individuais e coletivas. É preciso lembrar ainda que as equipes que trocam de técnicos costumam se agigantar nos primeiros jogos, ainda mais quando tem um treinador com o prestigio de Ancelotti. Certeza apenas é o aumento de esperança de que a seleção dê um salto de qualidade e ganhe a próxima copa.
*Tostão é cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970.