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RELEMBRE

Tiros, prisões e demissões: as maiores greves de rodoviários em Salvador

Sindicato dos Rodoviários promete 'maior greve da história' da cidade para os próximos dias

Por Daniel Genonadio

27/05/2025 - 8:25 h | Atualizada em 27/05/2025 - 21:44
Ônibus sendo depredado ao circular nas ruas de Salvador / foto de 02/06/2006
Ônibus sendo depredado ao circular nas ruas de Salvador / foto de 02/06/2006 -

Salvador pode ter confirmada, nas próximas horas desta quarta-feira, 28, uma greve de rodoviários e ficar sem ônibus para o uso da população. Depois de resoluções de última hora em ameaças de greve nos últimos anos, a situação de 2025 parece mais indefinida, sem uma solução entre o patronato e os rodoviários.

Ao Portal A TARDE, o presidente do Sindicato dos Rodoviários de Salvador, Hélio Ferreira, deu uma forte declaração, afirmando que a categoria pretende fazer da greve de 2025 a maior da história da cidade.

“A categoria está preparada para, caso a negociação não avance, realizar uma das maiores da história de Salvador e da Bahia. A nossa greve vai ser uma greve maior do que a de 1992 e de 2006”, afirmou.

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As reinvidicações dos rodoviários na campanha salarial de 2025 são:

  1. Reajuste salarial com 5% de ganho real, além da reposição da inflação;
  2. Cumprimento das mudanças na escala de folga, que, segundo eles, vêm sendo alteradas sem aviso prévio;
  3. Respeito à jornada de trabalho, que estaria excedendo o limite de 7 horas diárias.

As greves históricas

A declaração de Hélio Ferreira não foi por acaso, já que as greves citadas se transformaram em um marco na luta por direitos dos rodoviários de Salvador. As constantes disputas com o patronato também revelam uma rotina constante na busca por dignidade e melhores condições de trabalho.

O Portal A TARDE, utilizando o Centro de Documentação do Grupo A TARDE (Cedoc), resgatou relatos de grandes greves históricas de rodoviários que aconteceram em Salvador.

1990: a greve de nove dias

No dia 6 de junho de 1990, Salvador amanheceu sem nenhum ônibus na rua, após decisão de greve dos rodoviários em assembleia na noite anterior. A decisão pela greve em tempo indeterminado aconteceu após os patrões não cumprirem uma decisão do Tribunal Regional do Trabalho (TRT), que determinou reajuste de 166% aos trabalhadores.

Na ocasião, Salvador contava com 1.700 ônibus, e nem mesmo os 10% da frota (170) foram à circulação com a greve, na espera de uma decisão do Tribunal Superior do Trabalho quanto ao reajuste de 166%.

Aquela greve durou nove dias, no que foi considerada uma vitória para os sindicalistas. "Um recorde", disse, à época, o então diretor do Sindicato, José Carlos da Silva.

A greve só chegou ao fim no dia 15 de junho, quando os rodoviários obtiveram êxito em suas principais reivindicações, depois de exaustivas negociações entre lideranças do patronato e sindicalistas. Na ocasião, a ameaça de demissão de mais de 2.700 trabalhadores não foi para frente, e o reajuste salarial obtido como adiantamento até uma nova decisão da Justiça foi de 55,17%.

Veja fotos da greve de 1990

  • Ônibus depredado em Salvador, em 1990
    Ônibus depredado em Salvador, em 1990 |
  • Ônibus, ageiros e escolta policial na Estação da Lapa, em Salvador, durante greve de 1990
    Ônibus, ageiros e escolta policial na Estação da Lapa, em Salvador, durante greve de 1990 |
  • Pessoas na Eestação da Lapa, em Salvador, durante a greve de 1990
    Pessoas na Eestação da Lapa, em Salvador, durante a greve de 1990 |

1992: demissões, prisões e violência

Dois anos depois, a greve em 1992 foi iniciada no dia 25 de fevereiro, após semanas de tratativas malsucedidas com os empresários do transporte. Os trabalhadores reivindicaram um reajuste de 58% sobre o salário de janeiro, alegando perdas, percentual que os empresários consideraram ilegal.

Na ocasião, o presidente do Sindicato dos Rodoviários, José Carlos Silva, defendeu a chamada 'greve branca', em que os ônibus circulavam sem que as agens fossem cobradas dos ageiros.

"Os motoristas vão trabalhar na greve, mesmo sem receber seus salários", disse ele.

Do outro lado, Hebert Frank, superintendente do Sindicato das Empresas de Transportes Rodoviários (Sintran), afirmou que as 16 empresas de transporte urbano de Salvador possuíam despesas suficientes para "não se sujeitarem a pressões incoerentes e terem prejuízos com isso".

eata dos rodoviários na Praça Castro Alves, em Salvador, durante a greve de 1992
eata dos rodoviários na Praça Castro Alves, em Salvador, durante a greve de 1992 | Foto: Arestides Batista | Cedoc A TARDE

Aquela greve escalou para situações mais graves, já que, no primeiro dia de greve (em que a cidade viveu um dia de caos), as empresas de ônibus demitiram 285 rodoviários entre motoristas, cobradores e despachantes.

O governador Antônio Carlos Magalhães também reagiu de maneira enérgica e ameaçou até mesmo a desapropriação das empresas, caso os empresários não colocassem toda a frota de ônibus nas ruas.

Os rodoviários não arrefeceram da greve, e, no dia seguinte, uma nova lista com mais 160 rodoviários demitidos foi divulgada.

O clima foi quase bélico e considerado de 'terror' no dia 26 de fevereiro, quando policiais militares invadiram a sede do Sindicato dos Trabalhadores Rodoviários e tiros foram disparados. Trabalhadores foram presos por supostamente iniciarem uma confusão generalizada.

Em outros pontos da cidade, a violência também foi grande. Na Pituba, motoristas em greve depredaram ônibus que já circulavam, quebrando os vidros e furando pneus. Dois motoristas também foram feridos. Um deles, baleado de raspão no pescoço após disparo de um homem em uma "kombi marrom" na Cidade Baixa. O outro foi atingido por uma pedrada no olho esquerdo enquanto dirigia na Avenida San Martin.

Assembleias dos rodoviários com a presença da Polícia Militar, em 1992
Assembleias dos rodoviários com a presença da Polícia Militar, em 1992 | Foto: Geraldo Ataide | Cedoc A TARDE

A greve aconteceu a dias do Carnaval, e tanto o então governador Antônio Carlos Magalhães quanto o então prefeito de Salvador, Fernando José, acusaram os empresários de prolongar a greve com o intuito de aumentar a tarifa.

Já mandei prender trabalhador e mando prender empresário também. Espero contar com a colaboração dos senhores
Antônio Carlos Magalhães

Apesar do clima bélico, as empresas conseguiram retomar quase 100% do funcionamento da frota (depois de contratações de novos trabalhadores), apesar de uma parte dos rodoviários insistir na greve. "A maioria do pessoal que está dirigindo ônibus não tem qualificação", denunciou um líder sindical na época.

"Contrastando com a alegria dos novos contratados, os grevistas chegavam ao trabalho cabisbaixos. Um deles, na empresa BTU, dizia que não pode pensar apenas em si. 'Tenho mulher e filhos para dar comida', e, por isso, apesar de achar a greve justa, "não iria correr o risco de ser demitido", diz trecho de reportagem de A TARDE do dia 28 de fevereiro de 1992.

Ônibus apedrejados em Salvador, em 1992
Ônibus apedrejados em Salvador, em 1992 | Foto: Geraldo Ataide | Cedoc A TARDE

Com a abertura do Carnaval de Salvador, a greve dos rodoviários chegou ao fim e as negociações foram retomadas. Sindicalistas brigaram entre si pelo fracasso da greve, e um deles, mais exaltado, apedrejou o para-brisas de um ônibus que estava parado em um ponto perto do Hospital Santa Izabel. Já os empresários prometeram rever as centenas de demissões, exceto em caso de rodoviários que cometeram excessos.

2006: o dia que Salvador não teve ônibus

Na noite do dia 29 de maio de 2006, os rodoviários de Salvador definiram mais uma greve por tempo indeterminado. O caos na cidade começou no mesmo momento, quando, irritados, eles fecharam a pista nos dois sentidos na região da Sete Portas. A paralisação foi grande, contando com adesões de trabalhadores de Salvador e das linhas metropolitanas e intermunicipais.

A greve aconteceu após novo desacordo com os empresários. Os rodoviários pediram reajuste de 17%, e a pedida caiu para 10% após 18 rodadas de negociações. No entanto, a proposta final foi de apenas 4%.

Eles estão debochando da gente e, portanto, a decisão é pela greve
José Carlos Silva - presidente do Sindicato dos Rodoviários

A Justiça do Trabalho determinou que 70% da frota de ônibus de Salvador estivesse nas ruas. O não cumprimento da decisão faria o Sindicato pagar uma multa diária de R$ 50 mil. Mas, na manhã seguinte, a cidade não teve nenhum coletivo na rua.

Os rodoviários simplesmente ignoraram a decisão da justiça e aderiram, em 100%, à paralisação. As garagens ficaram cheias durante todo o 30 de maio, e a população sofreu, recorrendo a caronas e transportes alternativos.

A cidade parou e ficou "com cara de domingo". Com a greve de ônibus, boa parte dos estudantes das redes pública e particular de ensino ficou sem aula. E, para ocupar o tempo livre, muitos deles resolveram reunir os amigos para ear nos shoppings da cidade e aproveitar a praia.

Jovens aproveitaram o dia que não teve ônibus em Salvador para aproveitar a Praia de Piatã / Greve de 2006
Jovens aproveitaram o dia que não teve ônibus em Salvador para aproveitar a Praia de Piatã / Greve de 2006 | Foto: Margarida Neide | Ag. A TARDE

No segundo dia de greve, apenas 240 ônibus circularam após ação da Polícia Militar, que também acompanhou os coletivos em comboios. A saída das garagens foi precedida pela ação de piquetes montados pelos rodoviários na porta de algumas empresas, onde foi preciso a intervenção da PM. Pelo menos 30 veículos foram apedrejados.

"Ressabiados, motoristas e cobradores trabalharam sem os uniformes. A expressão dos cidadãos nos pontos de ônibus variava entre a felicidade de ver o coletivo rodando e o receio de viajar em um comboio", diz trecho de reportagem de A TARDE, no dia 1º de junho.

Na região do Subúrbio Ferroviário, os ônibus que circulavam pelas ruas foram apedrejados. Em um deles, um ageiro foi atingido por estilhaços no olho direito e sequer foi atendido em um posto médico por falta de material hospitalar adequado.

Os motoristas que estavam na escala de trabalho temiam por sua integridade física, em razão das pedradas.

A presença ostensiva da Polícia Militar, que utilizou viaturas do Batalhão de Choque para garantir a segurança dos ônibus / Greve de 2006
A presença ostensiva da Polícia Militar, que utilizou viaturas do Batalhão de Choque para garantir a segurança dos ônibus / Greve de 2006 | Foto: Eduardo Martins | Ag. A TARDE

Por conta da greve, o comércio de Salvador registrou uma queda de 70% nas vendas durante aqueles dias. As linhas intermunicipais não funcionaram, e viajantes também tiveram dificuldades de sair de Salvador por meio da Estação Rodoviária.

A escala de violência aumentou nos dias seguintes, e quase 200 ônibus foram depredados, além de um ter sido completamente incendiado no Trobogy. Garrafas, esferas de metal e 'coquetéis molotov' foram utilizados para os atos de vandalismo, o que deixou motoristas e ageiros apreensivos.

Ônibus incendiado no Trobogy, na sede da Litoral Norte/ Greve de 2006
Ônibus incendiado no Trobogy, na sede da Litoral Norte/ Greve de 2006 | Foto: Eduardo Martins | Ag. A TARDE

“A gente trabalha por necessidade, mas fica tenso, pois pode receber uma pedrada a qualquer momento", disse, na época, um motorista ao A TARDE.

Todas as 18 garagens de ônibus urbanos de Salvador amanheceram com forte esquema policial nas portas. A presença ostensiva da polícia, que utilizou viaturas do Batalhão de Choque, inibiu a ação dos piquetes.

Então, em 2 de junho, depois de dias tensos, Salvador retornou ao seu cotidiano com o fim da greve. A retomada aconteceu após dissídio coletivo no Tribunal Regional do Trabalho (TRT), que decidiu por um reajuste para 5%, estendido para o tíquete-alimentação.

As empresas ficaram com prejuízo estimado em R$ 6 milhões por dias sem arrecadação com o transporte público, além dos custos com a manutenção dos ônibus depredados. Depois de dias de vandalismo, falta de transporte, comércio afetado e principalmente medo entre os usuários do transporte público, a greve chegou ao fim.

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Bahia greve greve em Salvador onibus rms rodoviários Salvador

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