DESCOBERTA
Arqueólogos confirmam achado de cemitério do século 18 em Salvador 6w4q1z
Primeiros vestígios foram achados na Pupileira no dia 19 de maio 2m256t
Por Leo Prado*

A existência de um cemitério de escravizados do século 18 no estacionamento da Pupileira, no bairro de Nazaré, foi finalmente comprovada, após arqueólogos encontrarem vestígios de ossos e dentes humanos na escavação do local. A informação foi confirmada em coletiva de imprensa promovida pelo Ministério Público do Estado da Bahia (MPBA). Segundo a pesquisa que localizou a área, o local pode abrigar o maior cemitério de escravizados da América Latina, com cerca de 100 mil pessoas enterradas ao longo de sua história.
Os primeiros vestígios foram achados no dia 19 de maio, quinto dia de trabalho em campo da equipe responsável pela escavação. Segundo a coordenadora de arqueologia do projeto, Jeanne Dias, os materiais estavam soterrados a quase três metros de profundidade, e devem pertencer a um total de dois indivíduos.
“Por volta dos 2 metros e 70 centímetros encontramos os primeiros indícios, o que nos mostrou que estávamos no caminho certo. A partir daí, começou a aparecer muito material ósseo humano, que estava, majoritariamente, a cerca de 2 metros e 90 centímetros. Estamos falando de quase 3 metros de aterro encobrindo essa história. Esses seres humanos foram indignamente enterrados e soterrados”, conta.
Registro no Iphan 68654u
A arqueóloga ainda afirma que os ossos maiores foram protegidos e mantidos no local, mas pequenos resquícios, encontrados por meio do processo de peneiramento, foram coletados e levados para pesquisa em laboratório. O trabalho em campo foi finalizado na última sexta-feira (23), após o encerramento do prazo concedido para a operação.
Agora, a área já tem pedido para ser registrada no Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), com o nome de “Cemitério dos Africanos”. Com isso, a área estaria protegida sob as normativas do patrimônio cultural brasileiro.
O estudo tem autoria da arquiteta e urbanista Silvana Olivieri, que desde dezembro do ano ado, juntamente ao advogado e professor da Universidade Federal da Bahia, Samuel Vida, articula com apoio do MPBA a autorização para o processo de escavação. Somente no último dia 26 de março, a Santa Casa, instituição privada responsável pelo local, concedeu a liberação para o trabalho.
A área foi localizada pela pesquisadora por meio da análise de antigos mapas e imagens de satélites, além da consulta de dados históricos e fontes documentais. Segundo os indícios, o local foi inicialmente istrado pela Câmara de Salvador, e teria funcionado como cemitério por cerca de 150 anos, até 1844, quando ou a sofrer um apagamento da paisagem urbana. O estudo ainda mostra que o espaço era utilizado para enterrar, além dos escravizados, outros povos marginalizados da sociedade, como pobres, indígenas, prostitutas, suicidas, excomungados, perseguidos religiosos e lideranças de revoltas populares, como a Revolta dos Malês.
“Merece a nossa reflexão, para pensar o resgate dessa dívida impagável, que continua em aberto para com negros, indígenas e outros grupos minorizados. É muito impressionante que algo dessa magnitude, um cemitério que pode ter sepultado 100 mil pessoas, tenha ficado esquecido por quase 200 anos. E mesmo que mencionado em pesquisas históricas, não se sabia o local, um local que estava diante dos olhos de todos nós”, pontuou Samuel Vida.
Presentes durante a coletiva, as promotoras de justiça do MPBA Lívia Vaz e Cristina Seixas garantiram que o órgão já media tratativas com a Santa Casa e com o Iphan visando a preservação dos materiais e do espaço sob pesquisa. Ainda ontem, foi enviada para a Santa Casa uma solicitação para que a área escavada, correspondente a duas a quatro vagas de estacionamento, não seja mais utilizada para tal. Em breve, uma audiência pública também deve ser convocada para que se discutam os próximos os. Uma possibilidade é de que o lugar se torne uma espécie de memorial.
“Estamos muito empenhados em garantir o sucesso dessa pesquisa, e de uma adequação coletiva sobre o que fazer com essa descoberta, uma forma de reverenciar todo esse histórico. Provavelmente, isso deve evoluir para uma pesquisa muito maior, uma série de outros dados podem surgir a partir dessa descoberta”, declarou Cristina Seixas.
*Sob a supervisão da editora Isabel Villela
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