CULTURA
Artistas amazônicos usam versos, danças e corpos em defesa da floresta
Escritor Tiago Hakiy vê a poesia como um instrumento político
Por Elite
A aldeia toda se incendeia / Na manhã de sol na floresta. / Tem peixe assando na fogueira / E suco de cupu para completar a festa.” Os versos escritos por Tiago Hakiy (foto de destaque), poeta e escritor indígena, permitem que o leitor entre no coração da floresta amazônica e se sinta parte dela. Durante alguns instantes, somos parte da festa, dançamos, provamos peixes e sucos típicos da região. O trecho acima faz parte do livro Abecedário Poético da Floresta, lançado em novembro. A obra tanto apresenta os segredos da cultura para os leigos como acolhe os espíritos locais.

“Na escola, eu sempre encontrei livros que não tinham nada a ver com a minha realidade. Eles falavam sobre tubarão e eu nunca vi tubarão. Falavam de frutas, como maçã e morango, que eu nunca tinha comido. Sobre peixes que não eram parte da nossa fauna amazônica. Eu se me sentia perdido nessa literatura. Quando escrevo hoje, penso nos meninos e nas meninas nascidos no meio dos rios e florestas, que andam de canoa. Para que eles possam se identificar com a própria realidade”
Nem sempre os escritos de Tiago Hakiy seguiram esse caminho. Pertencente ao povo sateré-mawé, ele nasceu na comunidade Freguesia do Andirá, no município de Barreirinha, no Amazonas, longe de espaços editoriais e grandes centros urbanos. Aos 6 anos de idade, um escritor foi até a comunidade e o ajudou a conhecer o universo dos livros. Aos 19 anos, se mudou para Manaus, onde entrou na universidade e teve a possibilidade de lançar o primeiro livro de poesias.
Formas de Expressão Artística na Defesa da Floresta
- Música e Cantos Tradicionais – Letra e melodia inspiradas na natureza e no modo de vida dos povos da floresta.
- Dança Ritualística – Coreografias que representam animais, espíritos da floresta e lutas indígenas.
- Pintura Corporal – Uso de jenipapo e urucum para marcar o corpo com símbolos de resistência.
- Teatro e Performances – Encenações que retratam mitos amazônicos e denunciam o desmatamento.
- Poesia e Literatura Oral – Versos que celebram a cultura indígena e protestam contra a destruição ambiental.
Os versos iniciais não falavam da realidade cultural dele e do povo indígena. Eram poemas mais idílicos. Tudo mudou quando ele encontrou o escritor Daniel Munduruku, um precursor da literatura indígena no Brasil.
Artistas e Grupos que Defendem a Floresta por Meio da Arte
- Davi Kopenawa – Líder e escritor Yanomami que usa palavras e escritos para defender a Amazônia.
- Kaê Guajajara – Cantora indígena que mistura rap e música tradicional na luta pelo território.
- Grupo Mahku – Coletivo de artistas Huni Kuin que usa pintura e música para contar histórias ancestrais.
- Mapu Huni Kuin – Dançarino e músico que transmite saberes indígenas através da arte performática.
- Eliane Potiguara – Escritora e ativista que utiliza a literatura para falar sobre a resistência indígena.
“Ele me disse assim: ‘Tiago, por que você não escreve sobre o teu povo e a tua origem? Se nós não continuarmos escrevendo sobre nossos povos, o apagamento cultural vai continuar acontecendo’. Ele me instigou a rememorar toda a minha ancestralidade. E a partir daí a poesia ou a destacar nossa riqueza como indígenas da Floresta Amazônica, nossas trocas e cuidados com ela, que é tudo para nós. Ela nos dá alimento, moradia, caminhos e inspirações”, lembra Tiago Hakiy.

O poeta indígena tem hoje 44 anos e 17 obras publicadas. E participações em diversas antologias, as quais ele valoriza muito, por entender que o trabalho coletivo é uma característica importante das comunidades indígenas. Foi com a antologia Apytama, organizada por Kaká Werá, que ele venceu, coletivamente, o Prêmio Jabuti na categoria Livro Juvenil.

Compartilhe essa notícia com seus amigos
Siga nossas redes