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ESPECIAL MEIO AMBIENTE

Entenda como Salvador tem sido afetada com o aquecimento global em 2025 2td1v

Calor extremo afeta o ciclo da água, altera regimes de chuva, eleva o risco de doenças e compromete a produção de alimentos 3i331i

Por Joana Lopo

05/06/2025 - 6:15 h
O ano de 2024 foi o mais quente da América do Sul desde 1950
O ano de 2024 foi o mais quente da América do Sul desde 1950 -

As consequências da crise climática já não são mais futuras ou distantes. Elas estão diante dos olhos, tangíveis e muitas vezes violentas. Em Salvador, onde a Defesa Civil registrou em fevereiro deste ano uma temperatura máxima de 35,8°C na Base Naval de Aratu e 35,7°C em Itapuã, os termômetros confirmam o que a população sente na pele. A elevação constante da temperatura é apenas uma das faces visíveis de um problema que vai muito além do desconforto térmico. O calor extremo afeta o ciclo da água, altera regimes de chuva, eleva o risco de doenças e compromete a produção de alimentos.

Chuvas torrenciais, aumento da temperatura média, ventos mais intensos, aquecimento das águas oceânicas e maior incidência de tsunamis e furacões são sinais de que o planeta já não funciona como antes. O degelo das calotas polares, com a consequente elevação do nível dos mares e redução do albedo — a capacidade de refletir a radiação solar —, agrava ainda mais o quadro de colapso ambiental e social. Esses eventos climáticos extremos não acontecem de forma isolada, eles interagem entre si, criando um efeito dominó de desequilíbrio ecológico e perdas humanas e econômicas.

A progressiva instabilidade climática que acomete a Bahia exemplifica com clareza como esses efeitos globais se manifestam localmente. A estiagem prolongada, somada ao desmatamento e à má gestão do solo, favorece a desertificação, comprometendo o abastecimento de água e a produção agrícola. A escassez de alimentos gera aumento de preços e, consequentemente, insegurança alimentar.

Do outro lado, chuvas abruptas que superam a capacidade dos sistemas de drenagem urbana provocam alagamentos e deslizamentos de terra, que usualmente atingem de forma mais severa as áreas periféricas das cidades. Nessas regiões, a falta de infraestrutura e o adensamento populacional expõem vidas humanas a riscos constantes. “As ondas de calor e o ar poluído impactam diretamente na saúde e na produtividade das pessoas, o que afeta o sistema de saúde e o mercado de trabalho em geral. Em especial, crianças e idosos estão submetidos a maiores riscos de morte nesses casos”, afirma o doutor Antonio Lobo, pesquisador visitante da City University of New York e professor associado da Universidade Federal da Bahia.

A desigualdade social se impõe como lente para observar os efeitos das mudanças climáticas. Não se trata apenas de eventos naturais intensificados, mas de uma crise que incide com mais força sobre determinados corpos e territórios. Populações negras e periféricas, historicamente excluídas das políticas públicas, são as mais atingidas, seja pela localização geográfica vulnerável, seja pelo o limitado a serviços básicos. Quando chuvas intensas destroem comunidades construídas em áreas de risco, quando a água potável falta nos bairros mais pobres ou quando o calor excessivo agrava doenças respiratórias, não há como ignorar o peso da desigualdade.

Segundo o geólogo e pesquisador da UFBA José Maria Landim Dominguez, a crise climática é resultado direto do aumento da concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera, gás que, ao ser dissolvido nos oceanos, torna as águas cada vez mais ácidas, com efeitos devastadores para a vida marinha e para as populações que dela dependem. Ele explica que os impactos desse processo atingem todas as dimensões da vida humana e ambiental. “O caso dos rios da Amazônia, a gente pensa que nunca vai secar, mas os rios secam. As ondas de calor podem resultar em mortes, principalmente de idosos, como ocorre muito na Europa. O nível do mar sobe e exacerba a erosão costeira, com o avanço da maré, inundando. Aqui em Salvador, por exemplo, na Península Itapagipana, que é mais baixa, sobre muito com isso”, exemplifica.

Para ele, mesmo se zerasse hoje a emissão de novos gases de efeito estufa, o CO2 já lançado permaneceria por décadas na atmosfera, mantendo as temperaturas elevadas e afetando diretamente a agricultura e a pecuária. “Os organismos precisam de faixas específicas de temperatura para sobreviver. Nós mesmos sentimos desconforto com um grau a mais de febre. Imagine o impacto disso em escala planetária”, alerta Dominguez.

De acordo com o professor Clemente Tanajura, PhD em Meteorologia e pesquisador do Instituto de Física da UFBA, o aquecimento global se diferencia de outras catástrofes por sua progressão lenta, embora seus efeitos sejam cada vez mais visíveis e impactantes. Ele explica que, a cada grau Celsius a mais na média global, há um aumento na concentração de vapor d’água atmosférico, o que potencializa chuvas intensas, como as que têm ocorrido na Amazônia e no sul da Bahia. “O aquecimento global é de lenta progressão, diferente de catástrofes súbitas como tsunamis. Mas quando chuvas intensas ocorrem fora de época ou onde não eram comuns, a probabilidade de ligação com as mudanças climáticas aumenta”, observa.

Segundo ele, os impactos não se limitam ao meio ambiente. Alagamentos frequentes em Salvador, provocados por redes de drenagem obstruídas, geram prejuízos diários, aumentam os custos com manutenção urbana e pressionam ainda mais os cofres públicos. Em paralelo, as ondas de calor elevam em até 30% o pico de consumo de energia elétrica, sobrecarregando o sistema e provocando apagões. “Mesmo se zerássemos as emissões hoje, o carbono permaneceria na atmosfera por séculos. Como não temos como reverter o que já existe, precisamos de planejamento eficaz para mitigar as consequências”, afirma o cientista.

As soluções, apesar de complexas, estão ao alcance de decisões políticas e mudanças coletivas de comportamento. Para Tanajura, dois eixos precisam ser tratados com urgência. O primeiro é o investimento robusto em infraestrutura urbana resiliente, com redes de drenagem eficientes, reflorestamento e sistemas de alerta. O segundo é a mudança no padrão de consumo da população, com a redução no uso de combustíveis fósseis e plásticos, além da adoção de práticas como a coleta seletiva. Ele defende que essas ações precisam ser coordenadas, contínuas e respaldadas por políticas públicas de longo prazo.

O professor Antonio Lobo corrobora a análise e reforça que a redução dos impactos climáticos a pela substituição dos combustíveis fósseis por fontes de energia limpa e renovável, além de processos rigorosos de preservação e regeneração dos biomas. “Assim será possível mitigar os principais efeitos das mudanças climáticas e até mesmo revertê-los em longo prazo com adoção contínua de outras medidas sustentáveis”, sugere.

O Acordo de Paris, firmado por 195 países em 2015, é citado como um dos instrumentos mais importantes para frear a deterioração climática, mas sua eficácia depende da adesão prática e comprometida das nações, especialmente das mais industrializadas. “Todos os cientistas estão avisando há anos que estamos muito próximos do ponto de não retorno no que se refere às mudanças climáticas”, alerta Lobo. A mensagem é clara: não há mais tempo para discursos vazios ou ações paliativas. É preciso repensar o modelo de desenvolvimento, priorizando a resiliência dos territórios, o equilíbrio dos ecossistemas e a justiça climática.

Os dados de 2024, ano mais quente da América do Sul desde 1950, não deixam dúvidas de que o colapso climático é real e urgente. O Brasil, com sua rica biodiversidade e imensa responsabilidade ambiental, tem um papel central na contenção desse avanço. A Amazônia, o Cerrado e a Caatinga são biomas estratégicos que precisam ser protegidos com rigor, sob pena de consequências irreversíveis. Nas cidades, a adaptação precisa ser imediata. Em Salvador, por exemplo, os especialistas recomendam medidas como a ampliação de áreas verdes, investimentos em mobilidade sustentável e habitação digna em áreas seguras podem fazer a diferença entre o caos e a sobrevivência.

Mas o desafio é imenso e os caminhos estão traçados. Requerem, no entanto, coragem política, engajamento social e um novo pacto civilizatório em torno da vida. Porque, como advertem os cientistas, a mudança climática não é mais uma possibilidade. É uma realidade que já começou e que exige, de todos nós, respostas à altura da crise que enfrentamos.

Acompanhe as dicas dos especialistas:

  • Cobrar de seus governos e representantes compromisso real e prático com a mitigação das mudanças climáticas e com a sustentabilidade;
  • Reduzir consumo dos recursos naturais a exemplo de água, energia e bens supérfluos em geral;
  • Optar pelo uso de produtos que sejam sustentáveis e oriundos de processos produtivos conduzidos em sintonia com o respeito ao meio ambiente;
  • Consumir serviços e produtos de empresas que tenham reais compromissos com o enfrentamento às mudanças climáticas e a preservação do meio ambiente;
  • Reduzir o consumo de carne vermelha, principalmente a bovina, pois a criação em massa desses animais geram gases do efeito estufa e diversos impactos ambientais, principalmente a destruição dos biomas locais;
  • Ter compromisso com a coleta seletiva e com o descarte adequado dos resíduos;
  • Abolir a utilização do plástico, principalmente os descartáveis, pois o plástico é um dos grandes poluidores do meio ambiente.

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