ECONOMIA
Sem vínculo empregatício, freelancer tem um desafio maior para lidar com finanças u4t72
Ter uma reserva de emergência é essencial para quem trabalha por conta própria, sem um rendimento fixo 5qq6o
Por Isabel Queiroz*

Trabalhar sem carteira assinada deixou de ser exceção e se tornou a realidade de muitos brasileiros. O trabalho por conta própria — seja prestando serviços ou vendendo produtos sem vínculo empregatício — faz parte do cotidiano de profissionais autônomos e freelancers. Embora o freelancer seja uma categoria dentro do trabalho autônomo, o que o diferencia é a natureza temporária e rotativa das atividades: eles costumam atuar em projetos pontuais, com demandas que variam de acordo com o cliente ou o período. Em comum, ambos enfrentam um desafio constante: lidar com a instabilidade financeira e organizar um orçamento em meio a rendimentos irregulares.
Em busca de mais liberdade criativa, flexibilidade de horário e, muitas vezes, um potencial de renda maior, muitas pessoas optam por modelos de trabalho fora do regime CLT. No entanto, essa escolha também implica abrir mão de benefícios importantes, como a segurança jurídica e a estabilidade financeira. Como em tantas outras decisões da vida, é preciso colocar na balança o que faz mais sentido para seus objetivos e estilo de vida.
Entre as vantagens de ser um profissional autônomo está o fato de que os lucros da atividade vão diretamente para o empreendedor, o que oferece uma possibilidade real de crescimento pessoal e financeiro. Já entre as desvantagens, a especialista em educação financeira com neurociência, Cinara Santos, destaca não só a instabilidade financeira, com grandes oscilações nos ganhos mensais, mas também a sobrecarga de funções. Muitas vezes, o trabalhador é responsável por tudo: finanças, comunicação e execução do trabalho — o que pode gerar exaustão e até comprometer a qualidade da entrega. E, o mais complexo, é a ausência de benefícios trabalhistas.
Na prática, ter uma reserva de emergência é essencial para qualquer pessoa, mas se torna ainda mais necessário para quem tem uma renda instável. Especialistas como Cinara recomendam guardar pelo menos 10% da renda mensal — ou o mínimo possível quando essa porcentagem não for viável. O importante, segundo ela, é criar o hábito de poupar: “Criar uma reserva financeira é uma forma de lidar com a instabilidade típica do empreendedorismo. Nos meses em que o faturamento é mais baixo, essa reserva pode complementar a renda ou socorrer em imprevistos. Todo planejamento, inclusive para pessoas que não empreendem, deve incluir uma quantia destinada à poupança”.
Poupança ‘Imprevistos’
“Imprevistos” é exatamente o nome dado por Marlon Chagas à sua poupança. Modelo e produtor cultural, ele atua como freelancer em diversas áreas da cultura, como teatro, cinema, audiovisual e eventos: “Tenho uma poupança específica chamada ‘Imprevistos’. Esse nome já diz tudo. Guardo valores nela todos os meses e recorro a ela em períodos de baixa demanda ou quando surgem situações inesperadas”. Ele ressalta que a estratégia funciona porque foi construída com antecedência e disciplina, tornando-se um apoio fundamental nos momentos de aperto.
Para manter o controle financeiro, Marlon se organiza por meio de planilhas e destina 30% do que recebe para sua poupança de imprevistos: “Às vezes, um trabalho é realizado hoje e só será pago em dois ou três meses. Ter uma reserva é o que garante a sobrevivência nesses períodos”. Outro ponto essencial, segundo ele, é a busca constante por novas fontes de renda: “O principal desafio de quem trabalha sem carteira assinada é não saber quanto vai receber no mês seguinte. Por isso, é fundamental estar sempre em movimento: inscrever-se em editais, manter redes de contato, prospectar projetos”.
Cinara também destaca a busca por renda extra como uma alternativa importante: “O empreendedor pode aproveitar seus conhecimentos para dar aulas, oferecer outros serviços ou buscar atividades paralelas. Por exemplo, uma doceira pode, além de vender seus produtos, oferecer cursos online de confeitaria”. Ela acrescenta que até mesmo investir em atividades diferentes pode ser uma boa estratégia — afinal, essa é uma das vantagens de ser autônomo: a liberdade de explorar diversas áreas.
Para lidar com essas questões, a separação entre pessoa física e jurídica se mostra uma das melhores estratégias. Cinara, que trabalha com mentorias e cursos de gestão financeira para MEIs, explica que uma das vantagens do CNPJ é justamente garantir alguns direitos: “Ao formalizar o negócio como MEI, o empreendedor já garante alguns direitos, como previdência social, aposentadoria e cobertura em caso de acidente de trabalho ou doenças ocupacionais”. Além disso, a formalização ajuda a organizar melhor as finanças, promovendo a separação entre vida pessoal e profissional.
Esse é um conselho compartilhado por Elde Oliveira, CEO da Advice Group e especialista em contabilidade e desenvolvimento de negócios: “Esse é um princípio básico da contabilidade, o da entidade. Misturar contas pessoais e profissionais é uma das maiores armadilhas de quem trabalha por conta própria. Essa prática gera confusão e impede que o empreendedor saiba se está tendo lucro, se pode investir ou se está retirando dinheiro do próprio negócio. O ideal é ter contas bancárias separadas e definir uma retirada mensal, como um ‘salário’, para avaliar a rentabilidade do negócio com clareza”. A parte mais importante da organização é a cautela e planejamento.
* Sob a supervisão da editora Cassandra Barteló
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