CINEMA
Prêmio da Academia de Hollywood pode vir para o Brasil 6p5e53
Cenário ocorre em uma edição imprevisível; Fernanda Torres enfrenta dura concorrência 2n1150
Por Rafael Carvalho - Especial para A Tarde

Em pleno domingo de Carnaval, o Oscar celebra a 97ª edição de sua histórica premiação dos melhores da indústria do cinema – majoritariamente norte-americano, com espaço para produções de alguns outros lugares do mundo. E este ano pode dar Brasil. O sucesso crescente de Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, colocou sob holofotes o filme sobre o caso do ex-deputado Rubens Paiva, torturado e morto pela Ditadura Militar.
O longa é hoje o mais cotado para vencer na categoria de Filme Internacional. Conseguiu ainda mais outras duas indicações: com Fernanda Torres, em Atriz, e surpreendentemente na categoria principal de Melhor Filme, um feito inédito para uma produção brasileira falada em português.
O Brasil nunca venceu um Oscar, apesar de já ter sido indicado outras quatro vezes na categoria de filme estrangeiro, com O Pagador de Promessas (1963), O Quatrilho (1996), O Que É Isso, Companheiro? (1998) e Central do Brasil (1999). Esta última foi de fato a campanha mais bem sucedida até o momento, só perdendo para o filme atual, ambos dirigidos pelo mesmo Walter Salles.
Mais que isso, Central do Brasil era protagonizado por Fernanda Montenegro, a primeira brasileira a ser indicada ao Oscar de atuação – na ocasião acabou perdendo para Gwyneth Paltrow, uma injustiça que os brasileiros nunca perdoaram. Por isso, ao repetir o feito da mãe, 26 anos depois, Fernanda Torres ou a angariar uma torcida descomunal no Brasil, como se pode ver no enorme engajamento de brasileiros nas redes sociais de qualquer evento internacional que a atriz participe.
Sua vitória no Oscar seria vista como uma espécie de reparação histórica pela derrota da mãe em 1999. No entanto, ela enfrenta uma barreira de peso. O nome de Demi Moore, protagonista de A Substância, cresceu muito nas últimas semanas e é tida por muitos como a grande favorita na categoria.
Pesaria contra ela certo preconceito por se tratar de um filme de terror, algo que a Academia dificilmente premia. Mas a atriz tem consolidado uma narrativa sobre ter vencido o pesado ostracismo da indústria por ter sido considerada por muito tempo apenas uma sex symbol.
Torres, por sua vez, além de estar em um filme baseado em fatos reais, tem a seu favor o fator novidade, já que muitos sequer a conheciam nos Estados Unidos e se encantaram com seu desempenho como Eunice Paiva. Esta, certamente, será uma das grandes disputas da noite.
Altos e baixos
Até mesmo na categoria principal não há um franco favorito a vencer, tantos foram os títulos que pareciam mais aptos a levar para casa o tão sonhado Oscar. O Brutalista, de Brady Corbet, chegou a estar mais cotado por um tempo, especialmente depois de vencer o prêmio de Direção no Festival de Veneza ano ado – mesmo evento de onde Ainda Estou Aqui saiu premiado como Melhor Roteiro.
Mas as 3h20 de duração do filme norte-americano parece ter afastado muita gente. Corbet, no entanto, segue forte na disputa para o Oscar de direção.
Um Completo Desconhecido, a cinebiografia de Bob Dylan – mais uma! – por um tempo também foi apontada como favorita, ainda mais por ter sido mantida em segredo por muito tempo e só lançada nos meses finais da corrida. Protagonizado pelo galãzinho do momento, Timothée Chalamet, o filme tem os seus fãs, mas não conseguiu arrebatar o suficiente, apesar de Chalamet poder “roubar” a estatueta de Melhor Ator das mãos de Adrien Brody, de O Brutalista, o mais cotado a vencer hoje.
A disputa para Melhor Filme, então, tem se desenhado entre Conclave, de Edward Berger, e Anora, de Sean Baker. De um lado um thriller político que desvenda os bastidores da escolha do novo papa nos salões secretos do vaticano; por outro, a comédia dramática sobre uma stripper que se casa com um jovem russo inconsequente e ricaço e cuja família exige que eles anulem o casamento imediatamente.
O filme de Berger tem o verniz da eficiência narrativa, uma história muito bem contada, envolvente e misteriosa, cheia de segredos que vão sendo desveladas à medida que as hipocrisias da Igreja Católica também se revelam. Mas Anora ganhou os importantes prêmios dos sindicatos de Direção e de Produtores, o que coloca o filme um o adiante na disputa. Ainda assim, nada está garantido e muitas surpresas podem aparecer no caminho. Ambos os filmes são favoritos nas categorias de Roteiro Adaptado e Original, respectivamente.
Por água abaixo
Exemplo maior de que esta edição do Oscar é uma das mais imprevisíveis e incomuns da História é o caso de Emilia Pérez, filme de Jacques Audiard. Por muito tempo tido como favorito ao Oscar de Filme Internacional e mesmo de Melhor Filme, a produção sa (que se a no México, mas foi toda gravada em estúdios na França, com elenco principal sem nenhum mexicano de destaque) viu suas chances minguarem depois que uma série de postagens racistas, xenofóbicas e preconceituosas de sua protagonista, a atriz trans Karla Sofía Gascón, vieram a público.
Os responsáveis pela divulgação do filme, distribuído pela Netflix mundo afora, tiveram que excluir Gascón da campanha, o que não impediu a queda de popularidade do longa. Das 13 indicações conquistadas – feito inédito para uma produção não falada em inglês –, a mais garantida é a de Atriz Coadjuvante para Zoe Saldaña (ela que é a verdadeira protagonista do filme). Sendo um longa musical, concorre também com duas canções, sendo El Mal, interpretada pela própria Saldaña, a favorita.
E na categoria de Filme Internacional, deixa as portas abertas para o Brasil, apesar de ainda poder surpreender. Para grande parte dos especialistas, no entanto, esse Oscar já é nosso. Haveria aí um gosto duplo de vitória, tanto por ter vindo de virada na campanha, como por ter um filme genuinamente latino-americano vencendo na categoria.
Motivos para comemorar nós temos de sobra, sobretudo em noite de Carnaval.
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