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DICA

Festival de cinema negro exibe filmes gratuitos em Salvador

Mostra Itinerante celebra cinema negro com filmes premiados e oficinas na capital baiana

Por Maria Raquel Brito*

23/05/2025 - 5:00 h
Cena de O Dia que te Conheci, um dos exibidos
Cena de O Dia que te Conheci, um dos exibidos -

Começa na próxima segunda-feira, 26, e vai até o dia 8 de junho a 6ª edição da Mostra Itinerante de Cinemas Negros Mahomed Bamba (MIMB). Mantendo o compromisso de potencializar produções de pessoas negras do Brasil e também de outros países, o festival tem o tema “Dendê e Luz!”, uma reverência à resistência e à ancestralidade.

Tema de 2025: “Dendê e Luz!”

“Nós pensamos no dendê como essa potência do alimento, do fruto, de algo que mobiliza a Bahia e mobiliza o mundo quando as pessoas pensam na Bahia. E pensamos que a gente pode falar do cinema também através do dendê, porque é uma busca ancestral por essa memória, e o cinema acaba materializando e imortalizando essa memória”, afirma Daiane Rosário, diretora executiva do projeto.

Programação híbrida: presencial e online

De forma a contemplar aqueles que não podem participar presencialmente, o festival acontece em formato híbrido. De 26 a 31 de maio, as atividades acontecem em formato virtual, com exibições de filmes pela plataforma Ubuplay.

Locais das exibições presenciais em Salvador

A mostra ará por:

Cine Teatro 2 de Julho (Federação)

Sala Walter da Silveira (Barris)

IAMO – Instituto Audiovisual Mulheres de Odun (Fazenda Grande)

Café Teatro Nilda Spencer (Barroquinha)

Destaques da mostra: filmes e formações

Um dos filmes que serão exibidos no festival é o premiado Kasa Branca, do ator, roteirista e diretor Luciano Vidigal, que atuou em filmes como Cidade dos Homens e Tropa de Elite e criou obras como o curta Lá do Alto, que também será exibido na mostra. Em Kasa Branca, vemos o empenho de Dé, um adolescente negro da periferia de Chatuba, no Rio de Janeiro, para aproveitar os últimos dias de vida com a avó, Almerinda, ao descobrir que ela está na fase terminal da doença de Alzheimer. Para isso, tem a ajuda de seus dois melhores amigos, Adrianim e Martins.

Filho de baianos, Luciano tem a Bahia como sua segunda casa. Para ele, apresentar sua obra na MIMB é uma oportunidade de fazer um intercâmbio com o público e com outros cineastas na terra conhecida como a “África brasileira”. “Eu faço questão de estar no mercado, que as minhas obras entram nesse lugar mesmo. Mas é muito solitário. Então quando a gente tem esses festivais e se encontra, principalmente os que têm essa temática preta, é um lugar de aquilombamento. A mostra para mim tem essa metáfora também. Eu vou me aquilombar em Salvador com esse festival, sabe? Ele exerce essa função também para a gente que é realizador. Isso nos fortalece para continuar nessa luta”, conta.

Além da exibição de filmes, a mostra conta com encontros, painéis e masterclasses com grandes nomes do cinema nacional e internacional – e as já tradicionais performances musicais de abertura e encerramento. Entre as atividades formativas, estão uma aula ministrada pelo premiado diretor e roteirista André Novais, autor de obras como Marte Um e O Dia que te Conheci, com o tema “Cinema Independente pra quem?”, e um encontro virtual com os fotógrafos Edinho Alves, Mariane Nunes, Meneson Conceição e Juh Almeida, que debaterão o tema “Fotografia: Fabulações Negras e Arquivos”.

Este ano, a MIMB também se uniu ao Paradiso Multiplica, projeto de difusão de conhecimentos em audiovisual, para fazer um laboratório de direção cinematográfica, que acontecerá de forma virtual, em quatro encontros.

>>> Tudo o que está ando no cinema em Salvador

Aquilombamento através do cinema

A MIMB nasceu em 2017, fruto de uma inquietação de Daiane por um evento que tornasse frequente a exibição de filmes produzidos por pessoas negras em Salvador. Recém saída da graduação, ela refletiu: “Nós precisamos de um espaço de encontro onde possamos ver filmes em que a gente se identifique com as questões narrativas, de linguagem”.

“Enquanto estudante de cinema, entendia que a gente tinha um arcabouço teórico na universidade, mas faltava muita coisa relacionada à técnica e à vivência em set. Então, inicialmente a gente vai no sentido de fazer os encontros como mostra, mas pensa: ‘ah, por que não fazer oficina de audiovisual?’. E surge a ideia de fazer um laboratório. Então a MIMB vem com esse monte de coisas que, para um primeiro ano de festival, já nasce muito grande”, relembra Daiane.

Nomeado em homenagem ao professor costa-marfinense Mahomed Bamba, que viveu mais de duas décadas no Brasil e desenvolveu aqui suas pesquisas em cinema e audiovisual africanos e da diáspora, o festival tem como um dos destaques seu caráter itinerante, que também já era um objetivo desde o início, de forma a levar os filmes para a maior quantidade de público possível, sobretudo aquele que está nas periferias da cidade.

Desde a primeira edição, a recepção do público e dos cineastas participantes tem feito com que o projeto siga em frente com ainda mais força de vontade – e resistência em meio à falta de investimentos. Esta edição, por exemplo, será mais compacta por falta de captação: enquanto o ano ado teve 21 dias de atividades, esta chega com 14 dias.

“A gente precisa ter muita crença e amor ao que a gente faz, acreditar muito que o cinema tem essa potência como ferramenta de transformação social. É lindo quando a gente chega num bairro e vê os olhos de uma criança brilharem quando ela olha para tela e consegue se identificar nos filmes, vê aqueles corpinhos pretos que se parecem com o dela. É importante fazer a manutenção das edições do festival, mas não é fácil. A gente a o ano todo fazendo inscrições em editais, concorrendo a esses espaços que muitas vezes acabam não abarcando a complexidade do que é colocar um festival de cinema negro na rua e a importância dele”, afirma Daiane.

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Pluralidade de vozes negras nas telas

Em cinco edições, a MIMB já formou mais de cinco mil pessoas através das ações formativas da mostra, incluindo uma parceria com os Estúdios Globo que levou seis jovens para um ciclo de formação no Rio de Janeiro, com tudo pago.

Nesse cenário, a saída é se reinventar, com mais atividades virtuais e o fortalecimento da integração com outros fazedores e outros festivais. A curadoria deste ano é uma demonstração dessa união. Feita de forma colaborativa, teve a participação de mostras como o Cinequebradas, o Festival de Cinema Baiano (Feciba) e a Mostra Ousmane Sembene Cinema (MOSC).

“Se não existir uma crença de políticas públicas no fator transformador do cinema e a gente esperar acontecer um Globo de Ouro, acontecer um Oscar, para entender o quão importante é esse tipo de investimento, a gente vai ficar cada ano ali dizendo que está fazendo cinema de resistência. Eu acho que isso é muito bonito na palavra, mas na prática não é. Então, a gente não quer fazer mais só cinema de resistência”, defende a diretora executiva.

Carol Aó conhece a potência da MIMB há tempos. A cineasta, que já participou da mostra outras vezes como ouvinte, agora exibe nela seu primeiro filme, o curta O céu não sabe meu nome. A obra traz a relação entre uma avó e sua neta: a avó, Preta, falece enquanto regava seu jardim, ao mesmo tempo em que sua neta se desloca ao seu encontro para tomar um café. Daí, o curta põe luz em temas como memória, sonhos e o encontro entre o presente e o ado. O filme foi criado a partir da experiência da própria Carol, que perdeu a avó em 2012 – e foi gravado, inclusive, na casa onde ela cresceu, no bairro de Plataforma.

Soteropolitana, a cineasta mora há dez anos em São Paulo, mas suas raízes aqui seguem fortes. Para ela, trazer sua produção para casa é uma chance de dar um retorno para a sua terra natal.

“Eu estou animada para trocar com o público, sempre gosto de ver como as pessoas sentem o filme e vêm conversar comigo sobre o que sentiram, sobre as experiências com suas mais velhas também. Ver como as pessoas se identificam”, comenta.

Espaço de identificação e celebração, a MIMB é um ponto de encontro para diferentes universos do audiovisual produzido por pessoas negras. Em um só evento, o público encontra documentários, dramas, comédias e filmes experimentais, dando ênfase à pluralidade existente nos cinemas negros.

Para os participantes e também para o público, essa valorização é um dos pontos altos da curadoria do festival.

“A falta de complexidade é uma crítica que eu faço aos festivais que não acolhem esse lugar do ‘cinema negro’ que não tem como característica principal ser negro, e o mesmo com cinema indígena e outros do tipo. Eles definem as histórias muito pelo que está em voga, e eu acho que isso muitas vezes não é justo com os processos do audiovisual, principalmente quando a gente tem tanta pluralidade. Então não é surpreendente que festivais como MIMB olhem de uma forma mais ampla, que entende as pluralidades na própria negritude, mas também em outras minorias. Isso é importante, então a curadoria sempre tem esse cuidado”, defende Carol Aó.

Luciano Vidigal concorda. Para o cineasta carioca, levar sua visão para festivais Brasil afora e até em outros países é uma oportunidade de mostrar outras faces dos corpos e cinemas pretos e periféricos e mostrar que as narrativas são diversas, que não se resumem à violência.

“A gente escreve as nossas obras em um lugar de tentar humanizar os nossos corpos através do cinema, e isso é um lugar de defesa. A nossa representação no cinema durante muito tempo foi uma representação incoerente, com algumas narrativas que a gente não concordava. O cinema para mim tem uma parte muito geográfica, eu gosto de entender as culturas diversas que o mundo me oferece através do cinema. Então, quando eu vou com o meu cinema é também nesse lugar, para falar: ‘olha, eu queria apresentar para vocês esse Brasil aqui’. O Brasil é afeto, é resistência, é poesia. A gente tem violência, mas é também um povo que luta, um povo bonito, um povo poeta, um povo engraçado”, afirma.

Mostra Itinerante de Cinemas Negros Mahomed Bamba / A partir de segunda-feira (26) até 08 de junho / Informações e programação completa: mimb.com.br

*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr.

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