O ANJO BOM DA BAHIA
111 anos de Irmã Dulce: um legado de amor e servidão aos pobres
A "Mãe dos Pobres" deixou obras sociais que acolhem mais de 3 milhões de pessoas por ano na Bahia
Por Carla Melo

Em 26 de maio de 1914, há 111 anos, nascia a segunda filha do dentista Augusto Lopes Pontes, professor da Faculdade de Odontologia, e de Dulce Maria de Souza Brito Lopes Pontes. Foi na rua São José de Baixo, 36, no bairro do Barbalho que chegava ao mundo Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes.
Um nome pouco comum para quem teve um dos legados mais importantes na Bahia e no Brasil. Anos depois, aquela menina que irradiava alegria e era apaixonada por brincar de boneca e arraias, e era torcedora do Esporte Clube Ypiranga, time formado pela classe trabalhadora e os excluídos sociais, viria a se tornar “O Anjo Bom da Bahia", ou a "Santa Dulce dos Pobres".
Os primeiros chamados
Carregando o nome de sua querida mãe, Irmã Dulce, se viva, completaria 111 anos de idade neste 26 de maio de 2025. Na terra, a santa foi responsável por grandes obras sociais na Bahia, principalmente àqueles que mais necessitavam de atenção, cuidado e amor.
Seu legado na Igreja Católica começou quando ainda tinha sete anos de idade, através da sua primeira comunhão na Igreja de Santo Antônio Além do Carmo. Foi ali que Maria Rita iniciou o seu primeiro chamado com o acolhimento de pessoas carentes. Aos 13 anos de idade, a irmã Dulce já tinha certeza da sua missão na terra: ou a acolher mendigos e doentes em sua casa, transformando a residência da família – na Rua da Independência, 61, no bairro de Nazaré, num centro de atendimento.
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Pouco tempo depois, a casa ficou conhecida como ‘A Portaria de São Francisco’- uma alusão ao santo na Igreja Católica que humildemente servia aos doentes e presenteava os pobres. Também é nessa época que ela manifesta pela primeira vez, após visitar com uma tia áreas onde habitavam pessoas pobres, o desejo de se dedicar à vida religiosa.
Atos de amor: as missões de Dulce na Bahia
No convento de freiras, a primeira missão da pequena Dulce foi ensinar em um colégio mantido pela sua congregação, no bairro da Massaranduba, na Cidade Baixa, em Salvador. Durou pouco tempo até ela perceber que sua missão com os pobres era mais forte, quando em 1935, ou a dar assistência à comunidade pobre de Alagados, conjunto de palafitas que se consolidara na parte interna da região de Itapagipe.
Nessa mesma época, a Irmã Dulce começa a atender também os operários através de um posto médico e fundado, em 1936, a União Operária São Francisco – primeira organização operária católica do estado, que depois deu origem ao Círculo Operário da Bahia.
Em 1937, funda, juntamente com Frei Hildebrando Kruthaup, o Círculo Operário da Bahia, mantido com a arrecadação de três cinemas que ambos haviam construído através de doações – o Cine Roma, o Cine Plataforma e o Cine São Caetano. Em maio de 1939, Irmã Dulce inaugura o Colégio Santo Antônio, escola pública voltada para operários e filhos de operários, no bairro da Massaranduba.
Obras sociais Irmã Dulce
A história de uma das maiores iniciativas de ações sociais do Brasil foi marcada principalmente pela luta e peregrinação da religiosa. Em 1939, Irmã Dulce invadiu cinco casas na Ilha dos Ratos, para abrigar doentes que recolhia nas ruas de Salvador. Não durou muito tempo até que a religiosa fosse expulsa do local. Ela inicia, o que teria ficado marcado em sua vida, a peregrinação durante uma década, levando os seus doentes por vários locais da cidade.
Em 1949, Irmã Dulce ocupa um galinheiro ao lado do Convento Santo Antônio, após autorização da sua superiora, com os primeiros 70 doentes. A iniciativa deu origem à tradição propagada há décadas pelo povo baiano de que a freira construiu o maior hospital da Bahia a partir de um simples galinheiro.

Já em 1959, é instalada oficialmente a Associação Obras Sociais Irmã Dulce (OSID) e no ano seguinte é inaugurado o Albergue Santo Antônio. Sua obra foi tão aclamada pelos baianos, brasileiros e entidades internacionais que em 1988, ela foi indicada pelo então presidente da República, José Sarney, com o apoio da Rainha Sílvia, da Suécia, para o Prêmio Nobel da Paz. Oito anos antes, no dia 7 de julho de 1980, Irmã Dulce ouvia do Papa João Paulo II, na sua primeira visita ao país, o incentivo para prosseguir com a sua obra.
Neste ano, as Obras Sociais de Irmã Dulce completa 66 anos de existência com acolhimento 100% gratuito a mais de 3 milhões de pessoas por ano na Bahia, incluindo pacientes oncológicos, idosos, pessoas com deficiência e com deformidades craniofaciais, pessoas em situação de rua, usuários de substâncias psicoativas, crianças e adolescentes em risco social, entre outros públicos.
Além da Saúde, a instituição atua ainda nas áreas de Educação, Assistência Social, Pesquisa Científica e Ensino em Saúde. As obras sociais correspondem a quantidade de 6,6 milhões de procedimentos ambulatoriais realizados por ano na Bahia, 1,2 milhão de refeições servidas por ano para os pacientes e 63 mil internamentos realizados anualmente no Estado.





O adeus e eternização do Anjo Bom
Irmã Dulce morreu em 13 de março de 1992, pouco antes de completar 78 anos. No velório, na Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia, em Salvador, políticos, empresários, artistas, se misturavam a dor de milhares de pessoas simples e anônimas.
A fragilidade com que viveu os últimos 30 anos da sua vida – tinha 70% da capacidade respiratória comprometida - não impediu que ela construísse e mantivesse uma das maiores e mais respeitadas instituições filantrópicas do país, uma verdadeira obra de amor aos pobres e doentes.
Irmã Dulce foi canonizada em 2019, tornando-se a primeira santa brasileira por suas ações sociais com os mais necessitados.

Programação de aniversário de Dulce
Em celebração ao centenário de Irmã Dulce foi realizada uma Missa em Ação de Graças, às 8h30, no Santuário Santa Dulce dos Pobres, em Salvador (Avenida Bonfim, 161), com a presença de profissionais, voluntários, pacientes, moradores e religiosos da instituição, além de devotos e iradores da vida e obra do Anjo Bom. As homenagens pelos 66 anos da entidade contarão com missas também às 7h, 12h e 16h.
Além das homenagens à Mãe dos Pobres e ao seu legado representado pela OSID, as celebrações serão marcadas também por orações em prol da continuidade e do crescimento dos serviços prestados pelas Obras Sociais Irmã Dulce.
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